... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...

Em associação com Casa Pyndahýba Editora
Ano III Número 38 - Fevereiro 2012

Conto - José Geraldo de Barros Martins

Ilustração de José Geraldo de Barros Martins

Memórias De Um Carnaval

Godoyfredo Alcebíades era um cidadão pacato, destes que chegam cedo em casa, tomam um bom banho, depois pijama, jantar, Jornal Nacional, novela e cama... porém nos dias de carnaval ele virava outra pessoa: vestia a sua fantasia de romano e sumia de casa na sexta de carnaval e só voltava na quarta-feira de cinzas em um estado deplorável... depois disso, o lar voltava para a base do “feijão, verdura, ternura e paz”... até a sexta-feira de carnaval do ano seguinte.

Ismayla Dorotéia, sua sorridente esposa achou que com a vinda do filho ele iria deixar de lado a estória de carnaval, porém nada feito, durante os três anos consecutivos ao nascimento do Quynzinho ele continuou a ser um pacato cidadão somente 361 dias por ano... mas agora o Quynzinho já estava com quatro anos e iria começar a perceber a ausência, de modo que Ismayla Dorotéia passou todo o fim de semana que antecede o carnaval pedindo para Godoyfredo Alcebíades desitir de pular o carnaval...

- Quem pula é cabrito, eu não pulo... eu me divirto no carnaval – resmungou ele domingo a noite, depois do Fantástico.

Na segunda ele sai sem dizer nada ... volta para casa um pouco mais tarde, porém carrega uma caixa de papelão com um filhote de Labrador... Quynzinho adora... ele a observa com a certeza de que mais uma vez, ele irá se divertir no carnaval...

Godoyfredo Alcebíades se divertiu a valer naquele carnaval, e também no carnaval do ano seguinte, porém no carnaval do ano seguinte ele resolveu levar o labrador, que recebera o nome de “Heroy”(*) para a farra...

Voltou na quarta-feira de cinzas... com um vira-lata..

− Que cachorro é esse??? Cadê o Heroy??? exclamou ela ao vê-lo chegando naquele estado...

- É o Heroy, só que está fantasiado de vira-lata...

No dia seguinte a ressaca ...as lembranças vagas e confusas: no sábado-de-carnaval havia dado o Labrador de presente para um menino de rua, depois na segunda-de-carnaval havia recolhido um vira-lata na rua... agora a necessidade de ter que inventar uma estória para enganar o Quynzinho...

- Sabe Quynzinho, estávamos andando á noite, neste carnaval, eu e o Heroy pela rua Anita Garibaldi (**), quando ao chegar na esquina com a avenida Conde do Bonfim encontramos um mago terrível que lançou um encanto mais terrível ainda em nosso cãozinho que o transformou em um vira-lata... porém ele disse que o feitiço só dura até o próximo carnaval...

O Quynzinho o observa mudo, porém boquiaberto... então Godoyfredo Alcebíades percebeu em que enrascada se metera...


(*) Com Y em homenagem a letra que aparece em Godoyfredo, em Ismayla e em Quynzinho.
(**) na Tijuca, Rio de Janeiro

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